quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

FESTA DE REIS NA RUA DA BAIXA


              Vestido de pele-de-ovo, camisa de volta-ao-mundo, tudo isso era moda. Carro da Pitú* (sic) distribuindo cachaça para os inúmeros apreciadores da aguardente. Festa do povo. Povão. Não havia separação na Rua da Baixa, todo mundo era igual. Um espetáculo bom para se ver aos olhos dos hóspedes do Hotel Central que assistiam tudo gratuitamente.
            Dançar ciranda de mãos dadas e depois chupar rolete-de-cana-na-taboca, tomar refresco Ki-Suki quente com pão-doce ou mesmo comer maria-mole, tudo isso, oferecido à venda numas pequenas e singelas mesas de madeira, que se enfileiravam ao longo da rua e depois se divertir no carrossel até ficar tonto e vomitar. Luzes, muitas luzes e colorido caracterizavam o ambiente. As músicas do parque de diversão se confundiam com as cirandas de Lia de Itamaracá que tocavam no “carro de Otoni”. Esta ciranda quem me deu foi Lia que mora na Ilha de Itamaracá...”. inesquecível canção.
            Todos queriam ver a mulher que se transformava em gorila diante de seus olhos. Ficavam todos muito espremidos naquele cubículo escuro até que uma bela jovem se transformava em gorila. Incrível! 
            Bingo? Sim. Esperar a pedra “boa”. Ouvir o locutor do bingo dizer: “- de rombo”, quando se tratava de uma dezena que terminava em zero, era engraçado.
            Tinha barracas prontas e bem ornamentadas para fotografias, com paisagens ao fundo e até alguns acessórios, cavalinhos, chapéus etc etc.
            A Ladeira da Rua da Baixa era um ror de gente subindo e descendo a noite inteira. A felicidade estava estampada na face de cada um. Era o maior acontecimento do ano pelas redondezas. Todos os habitantes da Zona Rural vinham em cima de carros, cavalos, como pudessem para prestigiar a Festa de Reis em São José do Egito.
            O Bambuzinho e o Recanto da Juventude ficavam lotados, as moças de família davam preferência ao Bambuzinho, “boate de classe”, mas não se pode negar que no fundo todas gostariam de ir ao Recanto da Juventude, com jogo de luzes piscando e a fantástica “luz-negra”. Fato é que, com o passar dos anos ambas as boates eram frequentadas por todos, sem distinção.
            Alta madrugada. Silêncio, frio e a certeza de que “amanhã, tudo de novo”. Depois de quatro dias de festas... a saudade. Lágrimas rolavam ao ouvir o Carro da Pitú se despedir com a saudosa música “Eu vou embora, eu vou embora, eu vou embora adeus até outro dia...”
            Tudo isso soa tão estranho. Eu disse estranho? Com certeza não, para quem teve a graça de desfrutar as saudosas Festas de Reis nas décadas de 70 e 80. inFelizmente tudo muda e nada será como antes, porém, o sentido que cada um atribui aos momentos vividos, estes sim, são essenciais.
                                      
                                                                                                                      Vera Leite


*Escrito com acento, da maneira como se encontra no rótulo da garrafa.


Foto do "Carro da Pitú", retirada da internet.