sábado, 4 de maio de 2013

GÊNERO E SEXO


















xilogravura adaptada por Vera Leite


De maneira divertida
Nós vamos esclarecer
O que por muito tempo
Foi difícil de entender
O tema é conceitual
E tem íntima afinidade
Com a Psicologia Social

Para analisar
Este conceito tão sério
Queremos advertir
Que nele não há mistério
É o conceito de gênero
Que nós vamos definir

Marlene Neves afirma
Com muita categoria
Que sexo não é gênero
E não é filosofia
Porque sexo é biológico
É outra categoria

Gênero é comportamental
Fruto da socialização
Tem aspecto cultural
Em toda civilização
Ela é bem competente
Para esta afirmação

Escute aqui meu compadre
Como tudo aconteceu
O menino quando nasce
Roupa azul já recebeu
A menina cor-de-rosa
Uma princesa nasceu!

Ao rapaz é ensinado
Que choro não é pra homem
A mocinha comportada
Logo deve ser prendada
Nos afazeres domésticos
Deve ser bem educada
E bastante pudorada

O homem tem que ser macho
Sem pudor e sem reserva
Nasce e cresce como a erva
Sem poder se enfeitar
A mulher bem do contrário
Tudo nela é bem tratado
Do cabelo ao calcanhar

Não podemos esquecer
Do homem afeminado
Que nasceu uma mulher
Mas seu corpo foi trocado
Vou lhe contar como é
A vida desse coitado
                                                                       
Onde chega é rejeitado                                
Sofre muito preconceito   
No lugar onde ele mora
Por ninguém ele é aceito
Dos homens é afastado
E com mulher não tem jeito

Em todo lugar que chega
Ele é logo criticado
Por ter jeito delicado
Dão-lhe nome de veado
De boiola, de traveco
De bichinha, e depravado

Meu compadre vou dizer
Que tudo isso está errado
Os direitos são iguais
Seja homem ou mulher
E se não sabe o que é
Também a este é reservado

Na hierarquia de gênero
No mundo ocidental
O poder é exercido
De forma patriarcal
E o pai ou o marido
É a autoridade social

A mulher subordinada
Restou-lhes só um direito
Em tudo ficar calada
Estando errado ou bem feito
Mas as coisas estão mudando
Pois ninguém está satisfeito

Os sociobiologistas
Dizem que é natural
A dominação masculina
No seu meio social
Outros dizem que o fato
É de ordem universal

Fica clara a questão
Que é tudo separado
Sexo na fisiologia
Gênero está do outro lado
Mas um completando o outro
Estão intimamente ligados

(cordel apresentado na disciplina de Psicologia Social sobre o tema Gênero e Sexo)




quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

FESTA DE REIS NA RUA DA BAIXA


              Vestido de pele-de-ovo, camisa de volta-ao-mundo, tudo isso era moda. Carro da Pitú* (sic) distribuindo cachaça para os inúmeros apreciadores da aguardente. Festa do povo. Povão. Não havia separação na Rua da Baixa, todo mundo era igual. Um espetáculo bom para se ver aos olhos dos hóspedes do Hotel Central que assistiam tudo gratuitamente.
            Dançar ciranda de mãos dadas e depois chupar rolete-de-cana-na-taboca, tomar refresco Ki-Suki quente com pão-doce ou mesmo comer maria-mole, tudo isso, oferecido à venda numas pequenas e singelas mesas de madeira, que se enfileiravam ao longo da rua e depois se divertir no carrossel até ficar tonto e vomitar. Luzes, muitas luzes e colorido caracterizavam o ambiente. As músicas do parque de diversão se confundiam com as cirandas de Lia de Itamaracá que tocavam no “carro de Otoni”. Esta ciranda quem me deu foi Lia que mora na Ilha de Itamaracá...”. inesquecível canção.
            Todos queriam ver a mulher que se transformava em gorila diante de seus olhos. Ficavam todos muito espremidos naquele cubículo escuro até que uma bela jovem se transformava em gorila. Incrível! 
            Bingo? Sim. Esperar a pedra “boa”. Ouvir o locutor do bingo dizer: “- de rombo”, quando se tratava de uma dezena que terminava em zero, era engraçado.
            Tinha barracas prontas e bem ornamentadas para fotografias, com paisagens ao fundo e até alguns acessórios, cavalinhos, chapéus etc etc.
            A Ladeira da Rua da Baixa era um ror de gente subindo e descendo a noite inteira. A felicidade estava estampada na face de cada um. Era o maior acontecimento do ano pelas redondezas. Todos os habitantes da Zona Rural vinham em cima de carros, cavalos, como pudessem para prestigiar a Festa de Reis em São José do Egito.
            O Bambuzinho e o Recanto da Juventude ficavam lotados, as moças de família davam preferência ao Bambuzinho, “boate de classe”, mas não se pode negar que no fundo todas gostariam de ir ao Recanto da Juventude, com jogo de luzes piscando e a fantástica “luz-negra”. Fato é que, com o passar dos anos ambas as boates eram frequentadas por todos, sem distinção.
            Alta madrugada. Silêncio, frio e a certeza de que “amanhã, tudo de novo”. Depois de quatro dias de festas... a saudade. Lágrimas rolavam ao ouvir o Carro da Pitú se despedir com a saudosa música “Eu vou embora, eu vou embora, eu vou embora adeus até outro dia...”
            Tudo isso soa tão estranho. Eu disse estranho? Com certeza não, para quem teve a graça de desfrutar as saudosas Festas de Reis nas décadas de 70 e 80. inFelizmente tudo muda e nada será como antes, porém, o sentido que cada um atribui aos momentos vividos, estes sim, são essenciais.
                                      
                                                                                                                      Vera Leite


*Escrito com acento, da maneira como se encontra no rótulo da garrafa.


Foto do "Carro da Pitú", retirada da internet.